quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

De treze letras


O ser humano tem uma grande tendência a deixar-se levar por crenças que nos levam a praticar rituais estranhos no nosso dia-a-dia. A chamada superstição é a maior causadora desse efeito "paranóico" de muitas pessoas que acreditam piamente que tudo pode mudar por conta de um elemento qualquer.

Hoje pela manhã fui submetida ao exame teórico do Detran. Chegando lá, ao receber o número da minha senha de atendimento, me peguei com pensamentos como estes: "53! O ano de nascimento da minha mãe, vai ser moleza!". Depois, com número do computador que eu ia fazer a prova: "18, a diferença de idade entre meu cunhado e meu namorado!". E ao término da prova, quando apareceu o resultado: "28, a data de aniversário do primo da amiga do... peraí, o que estou fazendo?!" Me toquei da baboseira que eu estava pensando enquanto deveria estar preocupada com as pendências do trabalho ou a comida que eu esqueci de colocar pro cachorro ao sair de casa (tadinho). Foi aí que me ocorreu outro pensamento; quantas pessoas não praticam uma rotina de superstições e fazem suas vidas girarem em torno disso?!

Você, por exemplo, é uma destas pessoas! Naquele dia que seu time foi campeão você estava com uma cueca do Goku e desde este dia vai para todos os jogos com a maldita (ou seria bendita?) cueca, não é mesmo? 'E ái' de sua mãe se lavá-la! Aliás, tadinha da sua mãe; mal sabe ela que quando seu time perder na próxima partida você vai jogar aquela cueca podre "que não funciona mais" no cesto de roupa suja para a coitada lavar. Logo ela, a quem você salvou todas as vezes que desvirou os chinelos de maneira obsessiva, pois se eles estivessem com a sola para cima, uma contagem regressiva se iniciava para sua morte ou a de seu pai. Eles que sempre fizeram de tudo por você; colocando comida na mesa com o dinheiro que recebiam ao usar amarelo no reveillon e colocando caroços de uva nas carteiras! Falando em ano novo, esse ano tá difícil porque você não pulou aquelas 7 ondinhas, né? Mas poxa, não precisa ficar assim só porque hoje é sexta-feira 13 e você acordou atrasado. E daí que aquele pãozinho do café da manhã caiu com a parte da manteiga virada para o chão? Não precisa ficar transtornado quando sair de casa depois de abrir a porta girando o trinco três vezes e se deparar com um gato preto. Depois de passar por baixo daquela escada você chega pontualmente na sua entrevista de emprego! Ah, e não se esqueça de entrar com o pé direto, viu? Tá com a cueca do Goku?

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Temos nosso próprio tempo


Meia-noite, uma da manhã. As horas vão passando e me vejo revirando na cama, coisa que raramente acontece. Meu sono vem simultaneamente ao meu deitar. Mas o que raios me faz perder o sono? Agitação demais. Empolgação de um dia muito bom, que eu custo em aceitar seu término. Ansiedade pelo dia seguinte, preocupações, problemas, soluções. Porém há dias em que simplesmente o sono não vem, e conseqüentemente, vêm os pensamentos. Até o mergulho profundo, a cabeça fica ocupada e transtornada.

É antes de dormir que me ocorrem os pensamentos mais fúteis, as idéias mais loucas, os sentimentos mais profundos. Sinceramente, eu só durmo à noite porque é necessário. Minha cabeça fica à mil, dá vontade de estudar, criar alguma coisa, arrumar a casa, ajeitar o botão da blusa. Quantas vezes já levantei da cama pra assaltar a geladeira, resolver aquele problema do trabalho, passar a limpo aquela matéria, atazanar o cachorro... me recuso a ter que dormir! Porque o dia tem que acabar? Quero aproveitar cada segundo dele, mas o corpo cansado fala mais alto e não adianta querer prolongar o tempo; é hora de recarregar as baterias para poder aproveitar melhor o dia que está por vir.

E ele sempre vem trazendo consigo 24 horas. Só que vocês já pararam pra pensar que a gente passa a maior parte destas 24 horas desperdiçando-as? É, e é por isso que quando se vê, os pássaros já estão cantando, o sol já está raiando e você já está atrasado para o trabalho. "O tempo passa muito rápido", você diz. Ainda bem que o tempo passa! Já imaginou o desespero que tomaria conta de nós se tivéssemos que suportar uma segunda-feira eterna?

Sim, o tempo passa e nós mudamos. Ficamos tão sérios, tão preocupados e sempre tão sem tempo para coisa alguma. Como diria Henfil, "bem aventurado é aquele que consegue acordar a tempo de perceber que melhor do que fazer horas extras no trabalho ou perder noites de sono em algum projeto ou pesquisa, é sempre reservar um tempo para preservar suas amizades, dedicando-se às pessoas que você ama, à sua família. A felicidade está conosco o tempo todo: nós é que muitas vezes não damos a menor bola pra ela." Não damos bola e empurramos a vida com a barriga, e quando vemos, estamos insatisfeitos com o trabalho, com a esposa, com a vida. Mas ora bolas, o que você fez para isso? Dedicou todas as suas horas extras para o trabalho que não lhe satisfaz, a esposa está sentindo sua falta e você está estressado e cansado demais para sair. Pare e perceba que o tempo que você gosta de perder não é tempo perdido. Se dedicar-se ao trabalho é prazeiroso para você, faça isso! Brinque com seus filhos, converse com seu companheiro (a), vá à praia ao entardecer, compartilhe bons momentos com as pessoas queridas, VIVA com prazer!

Só há um tempo em que é fundamental despertar e esse tempo é agora. E como diria nosso querido Mário Quintana: "Não faças da tua vida um rascunho. Poderás não ter tempo de passá-la a limpo." Pense nisso.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Samba ao luar

Há muito tempo que não apareço por aqui. Porém, numa destas reflexões da vida, resolvi resgatar minha paixão por escrever. E já que estamos falando em sentimentos, porque não começar com um texto sobre eles?

Muitas coisas aconteceram nestes anos em que deixei o blog de lado. Dentre elas, uma coisa que jamais acontecera antes, tal qual tomou-me por completo. Por estas e outras, mostro para vocês um lado talvez desconhecido por muitos, deixando esta crônica falar por mim.

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Já era costume debruçar-se na janela pondo-se a admirar a lua. Fazia isto quase todas as noites, observando sem pretensão alguma, somente pelo simples ato de apreciar. Olhar para o satélite natural da terra lhe fazia um bem imensurável, mas até então ela não sabia o porquê disto.

Só que chegara um momento em que já não se impressionava com o luar, com olhos que nada diziam, as mãos e os corpos que se tocavam e nada sentiam, os gestos que pareciam cada vez mais desritmados. Construira em torno de si uma proteção, tal qual era forte demais para ser invadida. Esta proteção impossibilitara a admiração da lua, o balançar dos cabelos pelo vento, o toque da terra macia em seus pés.

Foi aí que, num doce e singelo ato, viu-se uma mão estendida em busca da resposta dela, e esta era tão convidativa, que ela deixou escorrer uma das mãos para fora da falsa proteção, e encontrara noutra o sentido que buscara ao contemplar a lua. A mão que lhe entrelaçava trazia consigo um jeito mágico de ver o mundo. Colocou-a sentada no banco do carona e fizeram uma visita à rainha das noites. E pôde ver, de tão perto, quão imensamente bela era aquela que fora apreciada por tanto tempo, agora colocada embaixo de seus pés. E como era macia! Parecia tão distante para ir buscá-la sozinha e ele a trouxe para ela. Sentiram-se envolvidos por uma melodia suave que deslizava em seus ouvidos.

E bailaram. Bailaram suavemente numa sintonia perfeita sobre a face da lua, o chão que com cautela pisavam. Quão preciosos se fizeram momentos, toques e cheiros. Ela sentiu-se inebriada do sentimento mais extraordinário e sensacional que um ser humano poderia sentir. E ele pôde sentir o mesmo. O sentimento que derruba muralhas; aquelas de quem não sabe deixar-se amar. E ela deixou o ritmo levar. Nunca a vida fez sentir-se tão presente, tão belamente presente como agora.

E lá mantêm-se bailando, nos passos cautelosos de quem um dia soube flutuar o bastante para chegar até a lua e lá permanecer.