Como vocês já devem saber, o filme da Bruna Surfistinha estreia hoje e já está causando o maior "bafafá". A repercussão do longa é imensa, causando polêmica em vários pontos; o primeiro seria o fato de produzir um filme mostrando a realidade de muitas garotas de classe média, que vêem na prostituição uma forma de ganhar dinheiro fácil. Tá, beleza, disso muita gente já tem conhecimento, e convenhamos que é bom para abrir os olhos de muitos pais, educadores e dos próprios jovens. O segundo ponto é justamente o fato do longa contar a história de uma garota de programa. Mostrar a vida dela, os programas, o mundo das drogas e tudo mais. Não que as profissionais do sexo não mereçam um filme como representação, mas a imagem que é passada para o mundo (pois o filme já tem previsão de estréia mundial) é o que me preocupa.
Eu, particularmente, sou uma pessoa isenta de preconceitos. Porém, analisando o fato de que em diversos países europeus, o estigma da prostituição assombra cada vez mais os passaportes brasileiros, cogitei: será que a culpa desta relação é atribuída à mídia que circula nos diversos contextos mundiais? Se perguntarmos aos estrangeiros qual a primeira imagem que lhes têm à mente sobre a "mulher brasileira", obteremos como resposta, na grande maioria das vezes, a imagem da mulata bem torneada, sambista, sensual, com biquíni cavado e um baita "popozão".
Apesar de ainda não ter assistido ao filme, li matérias que informam que ele é carregado de cenas de sexo, nudez, semi-nudez, peitos, bundas e afins. Claro que nada explícito, mas o bastante para provocar o público. Vamos parar para pensar: o que poderia justificar esse uso desenfreado da imagem da mulher brasileira, que sobrevive e se adapta a diferentes sistemas culturais, tornando-se um símbolo sexual reconhecido internacionalmente? Diariamente entramos em contato com este tipo de referência da mulher. A mídia habitualmente é considerada formadora de todos os estereótipos, mas ela é apenas mais um sistema que potencializa essa representação, disseminando-os de maneira estendida. Podemos dizer que a mídia - assim como os discursos moralizadores - não criou uma figura que corresponde ao estereótipo da mulher brasileira, apenas forneceu exposições que se estabilizaram através dos tempos.
A sensualidade está presente no caminhar da brasileira, no seu gingado, no seu olhar, nas curvas de seu corpo. A mídia só faz o papel de explorar isto cada vez mais. Estamos vivendo num mundo onde as mulheres são esteriotipadas, mas nada que não seja condizente com a realidade. Hoje, mulheres bonitas, gostosas e inteligentes são como o "Santo Graal"; raríssimas. Trabalhar em cima da imagem torna-se cômodo mas ao mesmo tempo destrói a imagem daquela que antes era vista como imaculada, guerreira, batalhadora. Isto acaba trazendo à tona o desrespeito, o menosprezo e as dúvidas sobre o potencial feminino. A fórmula da mulher ficou sendo esteriotipada como "Mulher=bunda+peitos+coxas+cabeça oca".
Discutir o processo evolutivo da imagem da mulher brasileira não se limita à mera defesa do espaço da mulher, mas propõe um novo olhar acerca do povo, da história e da cultura brasileira. Uma mudança de atitudes é necessária; a mídia só mostra a realidade, cabe à nós mostrar que temos muito mais a oferecer ao mundo do que nossos corpos.